De onde vieram os Ursos de Pelúcia?
- Francine da Ine'stuff
- 11 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de jun. de 2024
Mesmo com a popularização do Amigurumi nos últimos anos - bonecos/brinquedos feitos em tricô ou crochê -, uma técnica que nos abre infinitas possibilidades de dar forma à nossa imaginação, é muito comum que a imagem predileta das pessoas que nos encomendam peças ainda seja a que se assemelha à dos tradicionais bichinhos de pelúcia.
Você já se perguntou porque temos essa ligação afetiva com as pelúcias e como elas surgiram?
Pelúcia ou Peluche é um tecido feito em lã, algodão, seda ou em fibras sintéticas, como o poliéster, e tem como característica principal a aparência felpuda em um dos seus lados. É muito comum sua aplicação em bonecos e, apesar de pensarmos que isso tenha sido feito desde que o mundo é mundo, a pelúcia só começou a ser frequentemente usada em brinquedos no início do século 20.
Há duas histórias que se contradizem e se complementam sobre o surgimento dos Ursos de Pelúcia.
A mais conhecida conta que sua origem se deu nos Estado Unidos. Circulou uma história pelo país de que o então presidente Theodore Roosevelt, famoso por suas expedições de caça, havia sido misericordioso ao recusar-se atirar em um urso já ferido e amarrado em uma árvore. O cartunista Clifford Berryman aproveitou esse episódio publicando no Washington Post de 16 de Novembro de 1902 a charge “Drawing the Line in Mississippi” (imagem ao lado) como crítica à indecisão de Roosevelt sobre a disputa de fronteiras do Mississippi.
O ursinho do cartoon de Berryman inspirou o casal Rose e Morris Michtom, donos de uma loja de doces, a confeccionarem o primeiro urso de pelúcia, que apelidaram de “Urso do Teddy” (Teddy’s Bear), como era conhecido o presidente Roosevelt.
Teddy Bear fez tanto sucesso que, um ano depois, os Michtom abriram uma fábrica de brinquedos que viria se tornar a empresa Ideal Toy Company.
Porém, anos antes do advento do Teddy Bear, a interessantíssima Margarete Steiff já era CEO de uma empresa que fabricava animais de brinquedo em Giengen, Alemanha.
Em 1879, Margarete viu um molde de elefante de tecido na revista Modenwelt (Fashion World) e resolveu costurá-lo em feltro, que o deixaria mais resistente, para presentear as crianças da família. Foi tão bem aceito que ela decidiu explorá-lo em diversos tamanhos e começou a vendê-los a partir de 1880.
No mesmo ano, ela abriu uma fábrica de bonecos com auxílio de sua família - futuramente registrada como "Margarete Steiff, Felt Toy Factory" - e, nos seguintes, expandiu seu catálogo adicionando outros animais, como cavalos, macacos, camelos e cachorros.
Ursos já faziam parte deste catálogo mas o primeiro produzido em pelúcia foi desenvolvido junto com Richard Steiff, seu sobrinho, numa série limitada de 3 mil ursos ineditamente articulados (com movimentos de braços e pernas), o "Bear 55PB", com 55 cm de altura.
O ano foi 1902 e é isso que faz com que ambas histórias de origem dos Ursos de Pelúcia entrem em conflito.
A contemporânea Steiff Co. conta em sua biografia que os ursos de Margarete viriam a fazer sucesso mundial quando um comerciante estadunidense (seria Morris Michtom?) os descobriu, encomendou 3 mil deles para vendê-los nos EUA e que eles viriam a se tornar o famoso Teddy Bear. Já a história dos Michtom não cita em nenhum momento que eles tomaram como base algum modelo de brinquedo para desenvolver o seu próprio urso de pelúcia - apesar da nítida semelhança -, exceto pelo já citado desenho de Clifford Berryman.
Disputa de origem à parte, a verdade é que ambos os casos são "um case de sucesso" do design de produto e da publicidade! Os ursos de pelúcia passaram a ser os melhores amigos das crianças, escolha como primeiro presente do bebê ou como uma troca de afeto entre os enamorados, assim, se perpetuando em nosso imaginário afetivo até os dias atuais.
Referências:
As Minas na História [página no Facebook]. Margarete Steiff. Post de 15 de Jun de 2017. Disponível em: https://www.facebook.com/asminasnahistoria/photos/margarete-steiff-nasceu-no-dia-24-de-julho-de-1847-na-alemanha-quando-crian%C3%A7a-fo/1356129417805618/
Fahrenheit Magazine. Margarete Steiff: A dolorosa história com final feliz de ursos de pelúcia. Disponível em: https://fahrenheitmagazine.com/life-style/life-style-moda-estilo/margarete-steiff-la-dolorosa-historia-con-final-feliz-de-los-osos-teddy
Jim Pitocco. The Fascinating Story of Margarete Steiff, 1847 - 1909. Steiff USA [Site]: 28 jan. 2020. Disponível em: https://www.steiffusa.com/press-releases/the-fascinating-story-of-margarete-steiff-1847-1909/
National Museum of American History [Acervo Digital]. Teddy Bear. Disponível em: https://americanhistory.si.edu/collections/search/object/nmah_491375
Richard Wallin [Youtube]. Steiff Toys // Margarete Steiff Biography. 15 de Jun de 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=07lxSjLElw4
SOBRE A HUMANA QUE VOS FALA:
FRANCINE SOARES é a artesã por trás da Ine'stuff Crochê Contemporâneo. É Mestra em História da Arte pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), especialista em Metodologia do Ensino de Artes (UniCesumar) e Tecnóloga em Design de Interiores (Unoeste). Mora na metrópole desvairada há pouco mais de meia década, é mãe de dois catioros, sente saudades do happy hour no boteco debaixo de casa, sabe que precisa voltar a praticar yoga mas não larga as agulhas ou a máquina de costura nem quando está muito cansada. É fã de literatura fantástica, de bandas que foram jovens lá na década de 1970 e talvez tenha visto os filmes do Harry Potter bem mais vezes que as versões estendidas de O Senhor dos Anéis. Atualmente, passa mais tempo morando em sua ilha do Animal Crossing: New Horizons do que no mundo real.
Se você tiver curiosidade de conhecer um pouco mais do meu trabalho, me acompanhe lá no Instagram: @ine.stuff
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